Guia nacional coordenado por professor da UEL estuda atividade física e prevenção do câncer

O documento, produzido pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, com apoio da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde e do Instituto Nacional do Câncer, foi coordenado pelo professor do Departamento de Educação Física/Centro de Educação Física e Esporte, da Universidade Estadual de Londrina, Rafael Deminice.
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25/04/2022 - 16:00
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Orientar sobre a prática de atividade física para prevenir e melhorar a qualidade de vida a pacientes com câncer é o objetivo do Guia “Atividade Física e Câncer: Recomendações para Prevenção e Controle”. O documento, produzido pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), com apoio da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (SBAFS) e do Instituto Nacional do Câncer (Inca), foi coordenado pelo professor do Departamento de Educação Física/Centro de Educação Física e Esporte (Cefe), da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Rafael Deminice.

Participaram da produção 16 pesquisadores de instituições de todo o Brasil. O material é gratuito e pode ser acessado online, no site da SBOC.

Segundo Deminice, o guia tem o objetivo de aproximar a população brasileira e os profissionais de saúde das mais recentes descobertas envolvendo a prática de atividade física e câncer. “A iniciativa surgiu da constatação de que apesar da evolução científica da área de que a prática de atividade física para pessoas com câncer e sobreviventes é segura e benéfica, tal informação é pouco difundida na prática”, disse.

A partir dessa constatação, iniciou o levantamento do material para a confecção do guia que orienta profissionais da saúde a recomendar a prática de atividade física, estruturado em duas partes: prática de atividade física para prevenir e diminuir o risco da mortalidade em pessoas que já têm a doença e estão sob tratamento após o diagnóstico – os chamados “sobreviventes” do câncer. A pesquisa utilizou os parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica a prática de 150 minutos de atividade moderada ou 75 de atividades intensas por semana.

Com esses dados em mãos, estimou os benefícios da atividade física para os praticantes, utilizando métricas e metodologias específicas, e chegou a algumas evidências.

“Concluímos que a prática de atividade física reduz o risco de desenvolver o câncer de mama e cólon, e, possivelmente, de pulmão; a redução de risco pode chegara a 28%”, afirmou o professor. Para quem já tem a doença, a prática de atividade física moderada a vigorosa reduz o risco de mortalidade geral e específica por câncer de mama, cólon e reto, e de mortalidade específica por câncer de próstata. A redução do risco de mortalidade pode ser de até 50% nesses pacientes.

Uma das justificativas da pesquisa é a cultura do tratamento do paciente oncológico no Brasil. Segundo Deminice, apesar de existir uma série de estudos no mundo apontando para a importância da prática de atividade física para pacientes oncológicos, no Brasil ainda há uma cultura de tratamento desses pacientes com repouso. “Ao contrário da recomendação que muitos pacientes recebem de ‘repousar’, o documento orienta eles deveriam manter e até aumentar a prática de atividade física. Queremos quebrar esse paradigma”, indicou.

QUATRO PASSOS – Como, então, tentar reverter essa cultura de tratamento dos pacientes oncológicos? A equipe coordenada por Deminice desenvolveu, no guia, quatro passos e uma regra de ouro para profissionais de saúde que lidam com esses pacientes.

O primeiro é encorajar pessoas, com ou sem diagnóstico, a fazer atividade física; o segundo é a máxima de que “todo movimento conta”. “Precisamos desestigmatizar o exercício físico. A caminhada, subir e descer escadas, movimentar-se no dia a dia etc., tudo isso conta, não é só o exercício físico na academia, por exemplo”, disse.

O terceiro passo é dizer que a prática de atividade física para paciente oncológico é tolerável e segura. Por último, considerar a disponibilidade e experiência prévia do paciente ao orientar a prática de atividades físicas. A regra de ouro para os profissionais é promover atividade física como um hábito, incorporado na rotina de cada paciente. Por mais que existam pesquisas a respeito, essas máximas ainda são pouco conhecidas dos profissionais de saúde.

“Existe uma grande lacuna entre a pesquisa e a prática no Brasil, assim como há pouquíssimos profissionais da saúde que orientam essas práticas por aqui”, disse.

PROJETO DE EXTENSÃO – No segundo semestre deste ano, Deminice deve colocar em prática, também como coordenador, o projeto de extensão Correndo contra o câncer. Ele terá o patrocínio da Copel via Lei de Incentivo ao Esporte (nº 11.438/06) e vai reunir pacientes oncológicos na pista de atletismo do Cefe para caminhadas e corridas. O projeto está na fase de captação de recursos e compra de materiais e deve atender 60 pessoas que já receberam o diagnóstico e fazem tratamento contra algum tipo de câncer.

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