Estado divulga novas imagens e mais detalhes do projeto arquitetônico do Centro Pompidou Paraná

O arquiteto propõe um projeto com base em materiais simples, como o tijolo, produzido com a terra de Foz do Iguaçu – e que pode inclusive ser extraído da própria área onde ele será construído – capaz de dialogar com a paisagem local e com a experiência cotidiana da população. A licitação deve acontecer ainda neste ano.
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28/05/2025 - 08:40
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Confirmado nesta quarta-feira (28) como o primeiro satélite do Centre Pompidou nas Américas, o Centro Pompidou Paraná tem seu projeto assinado pelo arquiteto paraguaio Solano Benítez. Reconhecido por unir saberes tradicionais e soluções contemporâneas em obras de forte impacto social, ele propõe uma arquitetura que valoriza a convivência, a simplicidade e a relação com o território. É o que revelam as novas projeções do projeto divulgadas pela Secretaria de Estado da Cultura, parte de estudos e alinhamentos ainda em andamento.

A proposta está em sintonia com a vocação do museu, fruto de uma parceria do Governo do Paraná com a instituição francesa iniciada em 2022. O novo espaço será construído ao lado do Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu. A licitação deve acontecer ainda neste ano e a previsão de inauguração é para 2027, com investimento de cerca de R$ 200 milhões do Estado.

Mais do que um edifício, Benítez foi convidado pelo Paraná para criar um lugar onde as pessoas se sintam parte, no coração da Mata Atlântica brasileira. “A gente precisa facilitar o aprendizado. E para isso, é preciso garantir tempo e espaço para a imaginação”, afirma.

O Centro Pompidou Paraná deve ter acessos bastante imersivos, grandes salões que vão ajudar a moldar as exposições e uma área central que funcionará como um ponto de observação e encontros. “Este é um momento que inaugura não apenas um novo capítulo da história cultural do Paraná, mas também um gesto concreto de diplomacia cultural entre Brasil e França”, afirma a secretária de Estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira.

TIJOLOS – O arquiteto propõe um projeto com base em materiais simples, como o tijolo, produzido com a terra de Foz do Iguaçu – e que pode inclusive ser extraído da própria área onde ele será construído – capaz de dialogar com a paisagem local e com a experiência cotidiana da população.

Para ele, usar o mesmo material que se encontra nas casas da cidade é também uma forma de inclusão. “Se você consegue fazer uma obra extraordinária com aquilo que uma pessoa comum tem à disposição, você está mostrando a ela novas possibilidades de vida.”

O museu será construído com um sistema que une tijolos romanos e concreto armado, combinando técnicas ancestrais com soluções industriais modernas. A proposta parte da ideia de que não é preciso negar o passado para inovar – mas utilizar-se do conhecimento anterior para avançar a partir ele. “O tijolo tem três mil anos de história. Se eu consigo fazer uma pequena modificação nele, estou respeitando a tradição e, ao mesmo tempo, propondo algo novo”, afirma.

Benítez, que venceu o Leão de Ouro na Bienal de Veneza em 2016, é conhecido por criar estruturas com forte apelo estético a partir de elementos simples. Obras como a Escola de Música de Paraguarí, no Paraguai, e o Pavilhão Paraguaio da Bienal de Veneza, erguido com painéis de tijolo moldados à mão, são exemplos de como a sua arquitetura alia beleza, engenhosidade e função social.

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O Centro Pompidou Paraná deve ter acessos bastante imersivos, grandes salões que vão ajudar a moldar as exposições e uma área central que funcionará como um ponto de observação e encontros. Foto: Divulgação


MUSEU NATURAL – O projeto do museu foi pensado como um ambiente aberto e acolhedor, com forte integração com o entorno. A proposta inclui praça pública, salas de exposição, biblioteca, restaurante, ateliês educativos, áreas para espetáculos e laboratórios de residência artística. A arquitetura parte das condições reais do território: clima, luz, vegetação, relevo. Tudo isso influencia o desenho do edifício.

“O vínculo com a natureza precisa estar presente”, diz o arquiteto. “Não se trata apenas de usar materiais sustentáveis, mas de criar uma lógica de construção que faça sentido para o lugar, que é uma região quente, úmida”.

A concepção da arquitetura do museu se baseia em uma pele de painéis de tijolo, que concentra as circulações verticais e horizontais, envolve os principais espaços do museu e cria um microclima artificial no interior do edifício.

Para o arquiteto, a sustentabilidade não está apenas nos certificados construtivos ou no uso de determinados insumos. Está, acima de tudo, na forma como se pensa a construção. “Se a gente quer falar de sustentabilidade de verdade, é preciso olhar para as arquiteturas indígenas. Elas têm séculos de sabedoria acumulada e lidam com o ambiente de maneira muito mais respeitosa", diz.

A arquitetura do museu utiliza, pela primeira vez em maior escala, estratégias e técnicas construtivas desenvolvidas por Benítez no contexto local do Paraguai, como a pré-fabricação de módulos de alvenaria e o uso de painéis de tijolo como fôrma para a estrutura de concreto.

O projeto do museu caminha nessa direção: aproveita os recursos locais, evita excessos e valoriza técnicas que envolvem a comunidade. “Não quero discutir se as mudanças climáticas são causadas pelo ser humano ou fazem parte de um ciclo. O que importa agora é como a gente pode usar isso para melhorar a vida das pessoas".

Outro fator que é levado em conta pelo arquiteto é a localização geográfica do museu, ao lado do Parque Nacional do Iguaçu. Para Benítez, a floresta, assim como as pessoas, deve se integrar naturalmente ao espaço, sem uma definição clara de ‘dentro’ ou ‘fora’.

Como parte deste conceito, o projeto integra e incorpora a mata resiliente – que nasce espontaneamente no terreno do museu – ao espaço do edifício, propondo um paisagismo integrado ao percurso do visitante e aos programas públicos no nível térreo.

IDENTIDADE REGIONAL – Para Carolina Loch, diretora de implantação do Centro Pompidou Paraná, o projeto terá características bastante singulares, tendo a arquitetura em si como atrativo, assim como o prédio disruptivo e "high tech" do Pompidou em Paris, mas acima de tudo será palco para conexões culturais.

"Nas últimas semanas estamos ouvindo a sociedade de Foz do Iguaçu e região para construir um museu que pertence às pessoas, que reflete suas histórias e atende suas necessidades. Estar próximo à população é fundamental para garantir que esse espaço seja vivo, plural e conectado”, explica.

A unidade do Pompidou em Foz terá como foco a arte moderna e contemporânea, mas também será um espaço de formação, intercâmbio e experimentação. A curadoria será feita em conjunto com a equipe francesa, com destaque para a produção latino-americana. O museu deve receber parte do acervo do Pompidou exposições que dialoguem com o Sul Global.

Foz do Iguaçu, por sua diversidade cultural e localização estratégica na Tríplice Fronteira, é um símbolo do encontro de diferentes povos. O museu pretende refletir essa pluralidade, mas também servir como um exemplo mais universal da experiência humana. “A presença de comunidades árabes, libanesas, asiáticas, brasileiras, paraguaias e argentinas precisa se traduzir em um espaço no qual todos se sintam bem-vindos”, destaca.

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