Em cerimônia inédita em terra demarcada, Unicentro forma 1ª turma de Pedagogia Indígena

A formatura é resultado de um extenso trabalho. Em 2022, após quatro anos de análises, o curso de Pedagogia Indígena passou pelo processo de reconhecimento do Governo do Estado. Ele recebeu nota 4,7, sendo a máxima 5.
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13/12/2022 - 13:40
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Uma conquista para entrar para a história dos povos indígenas do Paraná. 22 estudantes das etnias kaingang, guarani, guarani mbya e xetá colaram grau nesta semana na primeira formatura do curso de Pedagogia Indígena da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). A diplomação foi, também, a primeira de um curso de graduação desenvolvido em uma terra demarcada na história do Estado. Ela foi realizada na comunidade de Rio das Cobras, no interior de Nova Laranjeiras.

A formatura é resultado de um extenso trabalho. Em 2022, após quatro anos de análises, o curso de Pedagogia Indígena passou pelo processo de reconhecimento do Governo do Estado. Ele recebeu nota 4,7, sendo a máxima 5, levando em conta os seguintes critérios: metodologia pedagógica, corpo docente e estrutura. A avaliação também recomendou que a universidade trabalhe para que o curso, criado para atender um ciclo, se torne permanente.

Há cinco anos, os integrantes da comunidade demonstraram o desejo de se capacitar ao cacique Ângelo Kavigtanh Rufin, principal liderança do local. Para atender a essa demanda, ele e uma comissão composta por moradores da terra indígena e por representantes do Departamento de Pedagogia da Unicentro entraram em contato com a reitoria, na época comandada por Aldo Nelson Bona, que hoje é superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná. “Ele disse que o curso iria acontecer”, recordou.

“Acompanhar a formatura, após esses anos, ajuda a mostrar como foi um ato grandioso aquele primeiro incentivo. É a primeira vez que uma universidade pública do Estado realiza uma solenidade de formatura na terra indígena, de um curso que aconteceu em uma terra indígena. Sem dúvida, é um marco para a história do Paraná”, disse o superintendente.

O atual reitor da Unicentro, Fábio Hernandes, disse que atender a reivindicação feita pelos indígenas era uma obrigação da universidade pela sua função social, que é transformar a realidade a partir das demanda da população. “Trouxemos o curso para dentro do local porque a graduação vai além de passar pela formação técnica, ela foi moldada para manter a cultura e preservar os costumes destes povos”, afirmou.

Adir Carlos Velozo, morador do local, representou a Fundação Nacional do Índio (Funai) na cerimônia. “A educação sempre foi a principal bandeira da comunidade. Agora nós vamos lutar por mestrado e doutorado”, completou.

Mariulce da Silva Lima Leineker, professora e coordenadora do curso de Pedagogia Indígena, acompanhou toda a trajetória acadêmica dos estudantes e e emocionou com a conquista. “A palavra que definiu esse momento é gratidão. Participar deste momento, fazer parte desta história, parte da vida destes indígenas. E a alegria de vê-los formados, pedagogos, colegas de trabalho”, afirmou.

HISTÓRIAS – Vanderleia Vygra Felipe lembrou dos obstáculos até a formatura. “Para mim foi difícil. Eu tenho duas crianças e eu tive que deixar a mais nova com a minha mãe em alguns momentos, mas esse esforço valeu a pena", disse.

Iumar Martins Rodrigues, outro formado, reside em Guaíra, no Oeste, e precisou fazer alguns "bate-volta" até Nova Laranjeiras para assistir às aulas. “Eu sou um dos primeiros indígenas da minha região com esse diploma. É uma vitória para todos da minha comunidade”, disse. “Os professores foram a família que eu construí na universidade, que me acolheram nos momentos difíceis e me fizeram ficar até o fim”.

Ilda Cornélio era formada em Serviço Social, já trabalhava na área e teve dificuldade em conciliar o trabalho com os novos estudos. Ainda assim, conseguiu cumprir os prazos e compromissos e agora quer mudar de profissão. “Se surgir alguma oportunidade de trabalhar na área, eu pretendo aceitar, porque é por isso que persisti”, completou.

VESTIBULAR DOS POVOS INDÍGENAS – O Paraná é pioneiro no Vestibular dos Povos Indígenas. Foi o primeiro estado a adotar o processo seletivo indígena como política estadual, com a reserva de vagas suplementares para indígenas ingressarem no Sistema de Ensino Superior Público por meio da Lei Estadual nº 13.134/2001, modificada pela Lei Estadual 14.995 de 2006. Em maio, 265 estudantes indígenas estavam matriculados em cursos de graduação nas universidades estaduais e na UFPR.

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