Alunos da rede pública de Mangueirinha transformam horta em laboratório de cosméticos

Em fevereiro de 2024, a horta da escola se tornou laboratório vivo: lavanda, hortelã, alecrim, babosa, beterraba — tudo passou a ser cultivado com um novo propósito. Era o começo de uma linha de produção que uniria natureza, ciência e criatividade.
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12/05/2025 - 14:10
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Aromas, cores e texturas que carregam mais do que beleza, unem ciência, sustentabilidade e empoderamento. Proposto pelos alunos do Colégio Estadual Professora Hercília França do Nascimento, em Mangueirinha, no Sudoeste do Estado, o projeto “Produção de Cosméticos Naturais: Trabalhando a Sustentabilidade e o Empoderamento Feminino na Escola” propõe uma abordagem multidisciplinar que vem transformando a dinâmica das aulas para além das quatro paredes da sala. 

A partir do desenvolvimento de cosméticos totalmente naturais, produzidos com elementos da horta da própria escola, os estudantes têm vivenciado na prática o aprendizado de componentes curriculares como ciências da natureza, química e empreendedorismo. 

Tudo começou em 2023 na horta da escola. Um dos trabalhos propostos aos alunos do Ensino Médio como parte integrante do componente curricular de Ciências da Natureza era a criação de inseticidas naturais a partir de elementos plantados pelos próprios estudantes, no canteiro de hortaliças do colégio.

Foi por meio do trabalho que os alunos descobriram então que plantas como citronela, alecrim e manjericão podiam ser usadas como agentes para o controle de insetos. Logo, a atividade ganhou corpo, novas ideias e mais adeptos interessados, desta vez em explorar o universo dos cosméticos. Em fevereiro de 2024, a horta da escola se tornou laboratório vivo: lavanda, hortelã, alecrim, babosa, beterraba — tudo passou a ser cultivado com um novo propósito. Era o começo de uma linha de produção que uniria natureza, ciência e criatividade.

“A proposta surgiu da escuta ativa com os alunos. Eles demonstravam curiosidade e afinidade com temas de autocuidado, sustentabilidade e bem-estar. Unimos isso ao conteúdo abordado em sala e criamos uma experiência prática, na qual eles realmente veem sentido no que estão aprendendo”, explica Flávia de Mello, professora idealizadora do projeto.

No laboratório de ciências, os estudantes então mergulharam em artigos científicos, testaram fórmulas, erraram e recomeçaram. Cera de carnaúba, manteiga de karité, óleo de coco e pigmentos naturais extraídos de plantas como urucum, jaboticaba, amora e até da casca do pinhão (inovação local, já que Mangueirinha é considerada a capital mundial da araucária) compõem os produtos desenvolvidos.

“Eles foram testando os produtos, adaptando as fórmulas e abandonando metodologias que não funcionavam. O pigmento do pinhão, por exemplo, foi descoberto através de fervura e moagem”, relata Flávia.

Em sete meses, os cerca de 40 estudantes envolvidos no projeto criaram mais de 100 unidades entre batons, hidratantes labiais, xampus sólidos, sabonetes aromáticos e cremes hidratantes.

EXPANSÃO – Em paralelo ao campo das ciências, nasceu a marca HF Cosméticos, fruto da eletiva de Empreendedorismo, também integrante da grade curricular do Ensino Médio. “Por serem totalmente naturais, atóxicos e veganos, os cosméticos podem ser utilizados com segurança. Isso nos deu tranquilidade para disponibilizá-los à comunidade escolar e ouvir os feedbacks”, afirma a professora Flávia. A intenção agora é submetê-los à aprovação de órgãos oficiais, viabilizando a continuidade e expansão da iniciativa.

Outro desdobramento do projeto são as joias botânicas, confeccionadas com resina epóxi e fragmentos da natureza coletados e prensados manualmente pelos alunos. Brincos, colares e pulseiras em formatos variados homenageiam o feminino e reforçam o vínculo entre estética e consciência ambiental.

Para a diretora Franciele Jaqueline Noll Della Veschia, os efeitos do projeto são visíveis na postura dos estudantes. “Como gestora e professora formada em Física, sei o quanto disciplinas como Química e Biologia geram resistência. Mas, nesse projeto, os alunos se apropriaram do conhecimento com entusiasmo. A eletiva se tornou o componente mais disputado da escola, e é gratificante ver como eles colocam a teoria na prática com liberdade e protagonismo”, afirma.

Em novembro de 2024, o projeto foi vencedor do concurso “Projeto TransformAção”, promovido pela empresa de energia renovável Engie. O reconhecimento marcou o segundo ano consecutivo de premiação da escola - a primeira premiação foi pelo trabalho com inseticidas naturais. 
Com apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT), que destinou cerca de R$ 60 mil ao projeto, a ação segue viva e em expansão.

Cada fórmula, cada acessório, cada planta cultivada revela o poder de transformação de uma escola onde o conhecimento se enraíza e floresce - com cor, aroma e protagonismo estudantil.

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