Sistema Plantio Direto: inovação que brotou no Norte do Paraná conquistou o mundo

12/05/2025
O Paraná teve protagonismo não apenas na técnica de semear sem mexer o solo, mas também na construção de um modelo conceitual e na consolidação de um sistema integrado de práticas agrícolas que hoje é referência mundial. Essa é a principal conclusão de um artigo científico recentemente publicado na prestigiada revista “Avanços na Agronomia”. O texto traça um panorama histórico e técnico sobre o surgimento e disseminação do plantio direto. Já em meados da década de 1960 pesquisadores questionavam se o preparo convencional do solo com aração e gradagem, herdado da tradição europeia, era adequado às condições tropicais. Datam desse período os primeiros ensaios sobre plantio direto em Londrina pelo antigo Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária Meridional, antecessor da Embrapa. No campo, agricultores preocupados com a erosão também buscavam alternativas. Foi ao Instituto que, em 1971, o produtor Herbert Bartz, de Rolândia, recorreu para obter informações sobre estudos voltados à conservação do solo. Ele também conheceu experiências práticas nos Estados Unidos, onde a técnica já vinha sendo adotada. No ano seguinte, 1972, ele fez a primeira semeadura direta de soja comercial que se tem notícia na América Latina. Outros cinco produtores de Campo Mourão e três de Mauá da Serra implementaram a novidade nas safras seguintes. Em 1976, Franke Dijkstra e Manoel Henrique Pereira adotaram a técnica nos Campos Gerais. Visionários e entusiastas do modelo, os três são hoje reconhecidos como os “embaixadores” da inovação brasileira, como aponta o artigo. 1972 também marcou a criação do Iapar, atual IDR-Paraná. A partir de 1976, os pesquisadores do Iapar passaram a usar a expressão “Sistema Plantio Direto”, para a nova abordagem. De uma área inicial de 200 hectares em 1972, a modalidade se expandiu rapidamente. Na safra 1975-1976, cerca de 200 produtores já tinham adotado a prática no Paraná. A consolidação nacional veio na década de 1990, impulsionada pela mecanização e a disponibilidade de herbicidas apropriados. Segundo o Censo Agropecuário de 2017, do IBGE, mais de 33 milhões de hectares eram cultivados sob esse sistema, o equivalente a 62% do total. Estimativas mais recentes apontam que esse número já ultrapassa os 41 milhões. Em 2020, o plantio direto já era adotado em mais de 205 milhões de hectares ao redor do mundo, com presença significativa na Argentina, Estados Unidos, Canadá, Austrália e China. Ainda assim, o modelo do Brasil segue como referência pela elaboração sofisticada e adaptação eficaz às condições tropicais. (Repórter: Gustavo Vaz)