"Oscar de Curitiba": MIS-PR contribui para resgate da memória e produção de filmes

03/03/2025
O filme “Ainda Estou Aqui”, que venceu o Oscar como Melhor Longa Metragem Internacional neste domingo, trouxe à tona a importância da memória visual no cinema. Estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, a obra utiliza registros familiares e fotografias para criar sua ambientação, numa proposta que dialoga com o trabalho do MIS, Museu da Imagem e do Som do Paraná, referência para pesquisadores e cineastas. No Paraná, produções locais já usaram o acervo do MIS-PR para resgatar fragmentos do passado. Um exemplo é o livro “Tribunascope – de calçada da fama à guia da calçada: memória de um festival internacional de Curitiba”, dos historiadores Vidal Costa e Christina Pinto, que reconstituíram a história do Festival Tribunascope, conhecido como o “Oscar de Curitiba”. O festival, realizado entre 1960 e 1965, premiava produções nacionais e internacionais, mas foi quase esquecido ao longo dos anos. A pesquisa dos historiadores, iniciada em 1992 na UFPR, enfrentou desafios como a perda de material por um vírus, e a dificuldade de encontrar registros, mas contou com o apoio de acervos como o da Casa da Memória e do jornal Tribuna do Paraná. A preservação desses registros é fundamental para entender como o cinema influenciou a cultura e a política da época, inspirando modelos europeus, como o festival de Veneza. Criado em 1959 por Júlio Kogut Neto, o Tribunascope ajudou a nacionalizar a cena cinematográfica de Curitiba, que, em 1960, contava com cerca de trezentos e sessenta mil habitantes. Já o filme “Ainda Estou Aqui” retrata o Rio de Janeiro dos anos setenta, durante a ditadura militar, quando Rubens Paiva foi levado por militares e sua esposa Eunice lutou para descobrir a verdade. Baseado no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva, o longa inicia com uma gravação caseira que reforça a importância de fotos e vídeos para reviver a estética daquela época. A produção contou com o grupo Lab:Lab, de Curitiba, responsável por criar vinte e dois slides a partir de imagens digitais. Vitor Leite, criador do processo chamado “gravação de filme”, explicou que, apesar do custo ser maior, o resultado oferece um alcance tonal e uma textura únicos, sem uso de câmeras digitais de cinema. O Lab:Lab é o maior laboratório da América Latina e o único na América do Sul que oferece esse serviço, tendo revelado cinquenta mil filmes em seus seis anos de atividade, além de digitalizar acervos de famílias e instituições. Este conjunto de iniciativas mostra como o resgate da memória visual é essencial para contar histórias e preservar a cultura, tanto no cinema quanto na pesquisa histórica. (Repórter: Gabriel Ramos)