Com tecnologia e produtividade, cana-de-açúcar volta a brilhar no Norte Pioneiro

16/08/2021
Esqueça a figura emblemática do boia-fria de mão calejadas e facão em punho que passa o dia em canaviais desviando das cobras. No Norte Pioneiro, é possível ver máquinas imponentes que praticamente aposentaram a profissão no Paraná, arrancando em questão de segundos uma infinidade de cana-de-açúcar do chão. Essa revolução tecnológica fez com que a cultura retomasse os bons tempos em Jacarezinho, o principal polo paranaense.

Sozinha, a cidade de quase 40 mil habitantes produziu 1 milhão e 500 mil toneladas de cana na safra 2019/2020, matéria-prima base do açúcar, do etanol e, mais recentemente, fonte de energia com a queima do bagaço e a transformação em biomassa. Jacarezinho conseguiu também diminuir o desemprego, já que muitos dos antigos boias-frias assumiram outras funções dentro das usinas.

Esse modelo é seguido à risca pela Usina Jacarezinho, braço sucroalcooleiro do grupo Maringá, eixo principal da engrenagem na região. A empresa conta atualmente com mil e duzentos colaboradores diretos, cerca de 3% da população da cidade, muitos deles adaptados, retirados do trabalho braçal. Há também 264 produtores ligados, que entregam 100% da produção à usina.

Movimentando 2 milhões e 500 mil toneladas por ano, a empresa precisou criar ramificações em cidades-satélites como Cambará, Santo Antônio da Platina, Andirá e Bandeirantes. Atualmente, são 33 mil hectares de canaviais, que viram açúcar e etanol para serem usados no mercado interno e também para exportação.

O gerente operacional agrícola da Usina Jacarezinho, José Ricardo Zanata, afirma que o objetivo da empresa é crescer ainda mais até o final do ano.// SONORA JOSÉ RICARDO ZANATA //.

Segundo ele, 98% da produção já é mecanizada, restando 2% de pequenos agricultores que ainda não conseguiram avançar para as máquinas. O bagaço da cana ajuda a cobrir toda a necessidade de energia elétrica da planta, rendendo cerca de 25 megawatts/hora, usados no consumo interno e também para comercialização.

Guilherme Papa é um dos produtores ligados à Usina Jacarezinho. No período de colheita, entre abril e outubro, ele entrega religiosamente 40 mil toneladas de cana, sendo que a tecnologia tem sido uma grande aliada na produção.// SONORA GUILHERME PAPA //.

O conglomerado familiar da família Papa emprega diretamente 70 pessoas, divididas no cultivo da cana, soja, milho, trigo, café, aveia, plantação de eucaliptos e pecuária.

Quem também colabora com outra boa fatia de tudo que a usina precisa é Joaquim Elias Carvalho Simão. Dependendo da temporada, que envolve as condições climáticas, repassa entre 40 e 50 mil toneladas de cana-de-açúcar para a usina.
Ele começou com o plantio de soja, mas logo mudou para produção de cana.// SONORA JOAQUIM ELIAS CARVALHO SIMÃO //

Atualmente, Joaquim conta com 20 colaboradores fixos nas suas propriedades.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento, Conab, o Paraná é o quinto maior produtor de cana do País, atrás de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul. Foram mais de 34 milhões de toneladas na safra 2019/2020 e a estimativa é de manter o mesmo patamar na safra 2020/2021.

Ao contrário das safras recentes, a atual está voltada ao açúcar. O clima mais seco contribuiu com a agilidade da colheita, sendo que o bom rendimento da lavoura tem relação com a baixa idade das plantações, de três a quatro anos em média.

A cana-de-açúcar foi uma das primeiras culturas importadas pelo Brasil, ainda no começo da colonização portuguesa, e logo se tornou também a matéria-prima para um dos primeiros produtos exportados pelo país: o açúcar.

Hoje, o Brasil ainda é uma potência na produção e na exportação de açúcar e o Paraná tem papel importante nessa conta. Depois da geada da década de 1970, a cana foi uma das principais alternativas dos paranaenses que viviam do café, com muitos cafezais se transformando em canaviais, especialmente na região Norte do Estado. O fato de a região ter sido povoada por paulistas e mineiros, tradicionalmente regiões de cana, também colaborou para o sucesso da cultura.

A cana-de-açúcar de Jacarezinho faz parte da série de reportagens “Paraná que alimenta o mundo”, desenvolvida pela AEN, Agência Estadual de Notícias. O material busca mostrar o potencial do agronegócio paranaense. As publicações são sempre às segundas-feiras. A previsão é que as reportagens se estendam durante todo o ano de 2021. (Repórter: Felippe Salles)