Alunos de Curitiba participam da maior feira de ciências do País

05/03/2021
Um origami gigante, feito com embalagens longa vida que seriam descartadas no lixo, se transforma em um abrigo impermeável para garantir um pouco mais de dignidade a pessoas que vivem na rua. Desenvolvido por estudantes do Colégio Estadual de Educação Profissional de Curitiba, o projeto olha para dois dos maiores problemas atuais dos centros urbanos – a falta de moradia e os resíduos sólidos. Ele será apresentado neste mês na Febrace, Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, a maior do Brasil na área. A iniciativa surgiu em 2018 nas aulas do Curso Técnico em Edificações do CEEP Curitiba, integrado ao Ensino Médio, e é tocada pelos alunos Allan Ernesti, Leonardo das Neves, Thiago Bronoski de Oliveira e Udson Ribeiro. O orientador da pesquisa, Gesse Ferreira de Lima, destacou a intenção de, durante todo o projeto, desenvolver não apenas uma questão técnica com os alunos, mas também as questões humanas.// SONORA GESSE FERREIRA.//

Thiago Brodoski explicou que, após limpas e recortadas em um tamanho padrão, as antigas caixinhas de leite são “soldadas” uma a outra usando um pedaço de tecido e um ferro de passar roupa, até formar uma grande manta de aproximadamente três metros quadrados. A estrutura, construída com cerca de 200 caixinhas, é dobrada utilizando técnicas de origami, o que permite que o abrigo seja carregado facilmente pela pessoa que o utiliza.// SONORA THIAGO BRODOSKI.//

Os materiais usados nesse tipo embalagem, que na prática dificultam sua reciclagem, são o que garantem o diferencial do produto desenvolvido pelos estudantes. A mistura de polietileno, papelão e alumínio é impermeável e térmica: aguenta as intempéries da rua e, em dias frios, também torna o interior do abrigo um pouco mais agradável que a temperatura externa. Os jovens levaram em torno de um ano e meio para chegar ao protótipo do abrigo, e agora estão criando uma manta para ser usada em conjunto, forrando o chão. As caixinhas de leite são arrecadadas e entregues já limpas e recortadas pela ONG Brasil Sem Frestas, que também utiliza as embalagens para tapar as frestas das casas de madeiras de famílias vulneráveis. Graças ao projeto, o professor Gesse foi indicado ao Prêmio Professor Destaque da Febrace, que reconhece os profissionais que incentivam, entre os estudantes, os projetos de ciência e engenharia. Apenas 10 educadores de todo o País concorrem ao prêmio, e o orientador destacou o valor de estar em um grupo tão seleto.// SONORA GESSE FERREIRA.//

Além dos eventos científicos, a proposta dos estudantes é que o projeto rume caminhos ainda mais altos. A pandemia atrapalhou um pouco o processo, que ainda está entre as paredes da sala de aula, mas uma segunda etapa prevê oficinas, inclusive com entidades que atendem pessoas em situação de rua, para que a iniciativa seja disseminada Brasil afora. Há também a intenção de uma produção em larga escala dos abrigos, para que sejam distribuídas a essa população. Esta não é a primeira vez que o projeto é reconhecido no meio científico. Em 2019, os estudantes foram vencedores, na Categoria Ciências Sociais Aplicadas, da Feira de Inovação das Ciências e Engenharias, realizada pelo Parque Tecnológico Itaipu, e garantiram o passaporte para a Expo Nacional MILSET Brasil, feira ligada ao Movimento Internacional para o Recreio Científico e Técnico. No ano passado, venceram a Feira de Ciências Júnior PUCPR, que rendeu a indicação à Febrace. A maior feira de ciências do País é promovida pela Escola Politécnica da USP, com apoio de várias instituições de fomento à pesquisa do Brasil, e está em sua 19a edição. Neste ano, por causa da pandemia, as atividades serão online e acontecem entre os dias 15 e 27 de março. A feira faz parte de um movimento nacional de incentivo a jovens cientistas. Nove projetos serão selecionados para representar o Brasil na maior feira pré-universitária do mundo, nos Estados Unidos. (Repórter: Wyllian Soppa)