Os números impressionam. Das 17.522 pessoas que moram em Terra Roxa, segundo a mais recente estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 3 mil trabalham diretamente com a Moda Bebê. Considerando os empregos indiretos, o segmento gera renda para mais de 5 mil habitantes. Ou seja, perto de um terço do município do Oeste do Paraná está envolvido com a confecção para crianças entre zero e quatro anos.
O sucesso é tão grande, com os produtos alcançando alto nível de qualidade e diferenciação, que garantiu a Terra Roxa o título de Capital Estadual e Nacional da Moda Bebê. É a história deste Arranjo Produtivo Local (APL) paranaense que a série Feito no Paraná vai contar. São 113 indústrias especializadas na fabricação de roupas infantis que juntas produzem 500 mil peças por mês, com um faturamento estimado em R$ 5 milhões.
Um novo capítulo do Estado na produção brasileira de confecções, que reforça a série de reportagens já publicadas sobre o que é produzido no território paranaense, como a moda masculina, no Sudoeste, e a confecção de bonés, em Apucarana e região.
De acordo com dados da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), o segmento industrial de confecção, têxtil e artefatos em couro é composto por 4.738 empresas e gera 65,9 mil empregos. É o terceiro segmento da indústria do Paraná em geração de empregos, perdendo apenas para os ramos alimentício e da construção civil.
PIONEIRISMO – Em Terra Roxa, a avenida que concentra uma fatia considerável das fábricas do segmento no município é pintada em tons de azul, rosa, branco, verde e amarelo, os clássicos da moda bebê desde sempre.
Pioneira no ramo, a empresária Cleunice Gali criou a Sonho Mágico há 26 anos. Trocou uma carreira bem-sucedida em uma instituição financeira de Foz do Iguaçu pelo que chama de aventura entre tip tops, babadores e macacões. Mas foi. Com a cara e a coragem, carregando os aprendizados que havia recebido da mãe, uma costureira especializada em cama, mesa e banho.
Criou uma sociedade, hoje dividida apenas com o marido, e arriscou a própria casa para garantir o capital de giro inicial. Passou a morar de aluguel até que as coisas entrassem nos eixos.
O que só aconteceu com uma ida para São Paulo. Pegou um ônibus e desafiou a pauliceia para entender porque seus produtos não eram aceitos no principal mercado do País. Voltou com uma série de anotações, reformulou o mostruário com base nas sugestões e, aí sim, as portas se abriram. Vendeu tudo em pouco tempo. Desde então, não parou mais. Pelo contrário, só cresceu.
Atualmente emprega 330 pessoas com carteira assinada e outras 300 em modelos distintos de contratação, como os microempreendedores individuais. Produz e comercializa 70 mil peças por mês para quase todos os estados do Brasil, com incursões no exterior em países como Paraguai e Angola, além de conversações iniciais com Uruguai e cantos da Europa.
A ousadia e experiência lhe renderam o posto de presidente do Arranjo Produtivo Local, associação de empresários da cidade que permitiu que as roupas de Terra Roxa ganhassem ainda mais mercado, dentro e fora do País. “É bom poder ver que deu certo, que os produtos são reconhecidos pela qualidade, colocando o que é feito no Paraná no topo”, diz.
CRESCIMENTO – A Sonho Mágico, claro, serviu de inspiração. E logo outras empresas do segmento foram se formando em Terra Roxa como que em progressão geométrica. Algumas confecções inspiradas na história de sucesso. Outras formadas por ex-funcionárias que resolveram também partir para o empreendedorismo. Logo o arranjo produtivo estava formado. Dali para se tornar a capital nacional da moda bebê foi um pulo.
Tanto que é comum ver ônibus de excursão carregados de donas de loja de diferentes pontos do Brasil estacionados pelas ruas de Terra Roxa atrás das roupinhas paranaenses. No atacado e no varejo. “Procuramos fazer e entregar um produto diferenciado. Estamos ligados em tendências, moda e na modernização dos processos. Tudo para atender bem os clientes. Esse é o segredo do sucesso”, afirma a empresária Luciana de Paula Fedrigo.
Ela é, ao lado dos dois irmãos, proprietária da Aconchego do Bebê, criada há duas décadas. Comercializa 45 mil peças para estados brasileiros e também para o Paraguai. Emprega atualmente 100 pessoas diretamente. Algo quase improvável para uma ex-caixa de supermercado, diz. “O momento é de retomada, de estruturar ainda mais para crescer”, destaca.
EMPREGO – O crescimento da APL passa necessariamente pela geração de empregos. As empresárias contam que há muitas vagas abertas na cidade, para postos como costureiras, estilistas e conferentes. A falta de mão de obra local fez com que a busca por profissionais se estendesse para municípios vizinhos, como Toledo, Marechal Cândido Rondon, Nova Santa Rosa, Altônia, Pérola e Assis Chateaubriand.
O câmbio favorável, com o valor do dólar proibitivo para quem quer importar, também ajudou neste momento de abalo econômico decorrente da pandemia do novo coronavírus. Sem opção no exterior, grandes magazines nacionais estão pedindo para a APL de Terra Roxa produzir as peças para bebês, dando ainda mais volume para a produção. “Podemos e vamos gerar ainda mais empregos”, ressalta Cleunice, que aposta no comércio eletrônico como arma para as empresas ganharem escala.
FEITO NO PARANÁ – Criado pelo Governo do Estado, o projeto busca dar mais visibilidade para a produção estadual. O objetivo é estimular a valorização e a compra de mercadorias paranaenses. O projeto foi elaborado pela Secretaria do Planejamento e Projetos Estruturantes e quer estimular a economia e a geração de renda. Empresas paranaenses interessadas em participar do programa podem se cadastrar pelo site www.feitonoparana.pr.gov.br .
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Confira as reportagens já produzidas para a série que destaca o que é Feito no Paraná.