Com áreas verdes, 98 cidades do Paraná têm grande controle sobre emissões de carbono

Levantamento produzido pelo Simepar revela que 25% do Estado possui áreas verdes maduras para absorver de forma natural o dióxido de carbono, um dos responsáveis pelos impactos negativos do efeito estufa. Os maiores índices estão no Litoral e no Oeste, locais com amplas áreas de preservação ambiental.
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12/09/2023 - 15:10

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O Paraná possui 98 municípios com índices negativos de liberação do gás na atmosfera, ou emissões líquidas negativas de dióxido de carbono (CO2). É como se uma fatia significativa do território paranaense, de cerca de 25%, atuasse como defensor contra o efeito estufa. O levantamento integra o Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa - 2005 a 2019, relatório produzido pelo Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) em parceria com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest) e o Instituto Água e Terra (IAT).

Esse resultado é fruto de políticas ambientais implementadas pelo Governo do Estado que priorizam a criação, manutenção e fiscalização das Unidades de Conservação (UCs). Há atualmente no Paraná 26.250,42 km² de áreas protegidas por legislação, formadas por ecossistemas livres que não podem sofrer interferência humana ou àquelas com o uso sustentável de parte dos seus recursos naturais, como os parques abertos à visitação pública. Imensidão verde que atua como um filtro na reabsorção do CO2, diminuindo as consequências negativas do efeito estufa no planeta.

Como parte do ciclo biológico do carbono, o CO2 é um componente essencial para todas as formas de vida. Na natureza, o gás é utilizado pelas plantas no processo de fotossíntese, e é liberado durante a decomposição dos seres vivos de volta para a atmosfera, onde o composto ajuda a manter o planeta aquecido por meio do efeito estufa.

No entanto, mesmo sendo um fenômeno natural, a emissão do gás em excesso na forma de poluentes desequilibra muito esse ciclo, resultando em um aquecimento anormal do planeta e, consequentemente, em uma série de problemas ambientais.

Como explica o pesquisador Christiano Campos, do Simepar, a reabsorção do carbono pelas árvores é um processo que ajuda a mitigar parcialmente os impactos desse processo. “Em uma floresta madura, o CO2 que é liberado quando uma árvore morre é reabsorvido de forma natural pelas árvores que estão nascendo, assim reduzindo as emissões do gás para a atmosfera”, comenta Campos. “E esse equilíbrio é bem mais presente nos municípios que possuem amplas áreas verdes, como Unidades de Conservação”.

Mesmo sendo um fenômeno que acontece em todos os tipos de floresta, a reabsorção de carbono é quantificada apenas nas UCs. Campos ressalta que essa decisão se deve à uma definição metodológica de Inventário de Gases de Efeito Estufa.

“O processo de medição manual da reabsorção é longo e complexo, então nós nos baseamos em estudos feitos em florestas similares de outros locais para fazer o cálculo. Por isso, o procedimento é avaliado apenas nas UCs, que são totalmente delimitadas, e que por estarem sujeitas à interferência humana, são ideais para analisar os impactos da emissão de carbono”, complementa o pesquisador.

PRESERVAÇÃO – O relatório do Simepar apontou que as dez cidades que apresentaram as maiores taxas de emissão negativa estão concentradas principalmente em duas regiões do Estado: Litoral (Guaraqueçaba, Guaratuba, Paranaguá, Antonina e Morretes) e Oeste (Céu Azul, Foz do Iguaçu, Serranópolis do Iguaçu e Guaíra), além de Alto Paraíso, no Noroeste. Como característica comum, todos esses municípios apresentam amplas áreas de vegetação, seja pela presença de parques estaduais, Unidades de Conservação ou pela proximidade com bacias hidrográficas.

“O Paraná tem exercido um papel fundamental para ações de sustentabilidade e boas práticas nas propriedades paranaenses, sejam elas públicas ou privadas. É uma política de Estado apoiar as RPPNs ou as demais Unidades de Conservação. Assim, fazemos com que o patrimônio natural do Paraná fique congelado nessas áreas para que não haja possibilidade de se mexer com a biodiversidade”, afirma o diretor-presidente do IAT, Everton Souza.

NOVAS UNIDADES – Essa rede de proteção ao patrimônio natural que está em crescimento no Paraná. O Estado vai ganhar quatro novas Unidades de Conservação: Estação Ecológica Tia Chica, em Reserva do Iguaçu (Centro-Sul); Estação Ecológica Reserva de Bituruna, em Bituruna (Sul); Área de Proteção Ambiental (APA) do Miringuava, em São José dos Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba); e o Refúgio da Vida Silvestre das Ilhas dos Guarás, em Guaratuba (Litoral).

As três primeiras têm origem em condicionantes de licenciamentos de empreendimentos hídricos da Sanepar e da Copel. Já o refúgio possui o objetivo de proteger os guarás, aves que deram o nome à Guaratuba, e que retornaram à baía depois de décadas sem serem avistadas na região.

As futuras Unidades de Conservação possuirão, juntas, área de 5.393,24 hectares, e se somam aos 70 complexos já existentes no Paraná. A previsão é que sejam inauguradas nos próximos meses.

“O Paraná hoje é um modelo para o Brasil em administração das Unidades de Conservação, pelo pioneirismo com as concessões do Parque Nacional do Iguaçu e do Parque Estadual de Vila Velha e, também, com outros modelos, como a gestão compartilhada da Floresta Estadual Metropolitana em Piraquara”, destaca o diretor de Patrimônio Natural do IAT, Rafael Andreguetto.

CICLO DO CARBONO – A reabsorção do CO2 é uma manifestação natural do ciclo biológico do carbono. Nesse processo, o gás é absorvido da atmosfera pelas plantas por meio do processo da fotossíntese, que usa a substância para a construção de matéria orgânica, e também libera o oxigênio usado na respiração de outros seres vivos no processo.

Para completar a etapa, o CO2 retorna para o ar como resultado da respiração e do processo de decomposição dos seres vivos. Quando está presente na atmosfera, esse gás é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa, um fenômeno natural que ajuda a aquecer o planeta retendo parte da radiação solar que volta para o espaço após ser refletida pela superfície da Terra.

Entretanto, as ações humanas vêm causando impactos cada vez maiores no equilíbrio desse ciclo. A queima de combustíveis fósseis e o desmatamento em excesso liberam uma quantidade imensa de CO2 na atmosfera, resultando em um efeito estufa mais acentuado e, consequentemente, em um aumento anormal da temperatura do planeta. Por isso a importância cada vez maior dos filtros naturais que são as Unidades de Conservação espalhadas pelo Paraná.

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